Bairro de dois séculos deu suporte para construção da capital de 78 anos.
Desde 1980, setor se destaca pela força do comércio varejista e atacadista.
O bairro de Campinas, localizado na zona oeste de Goiânia, tem participação crucial no desenvolvimento da capital de Goiás. Até meados de 1933, Campinas era um município com 123 anos de história e grande extensão de terras.
Ao ser escolhida como o local que abrigaria a nova capital de Goiás [a anterior era a Cidade de Goiás, a 130 km de Goiânia], Campinas, ou Campininha, como alguns preferem, abriu mão da sua autonomia de sede municipal para integrar o projeto de desenvolvimento político e econômico do Estado. O que aconteceu no ano de 1935, quando um decreto criou, oficialmente, o município de Goiânia.
Na avaliação do professor aposentado de história da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e autor de livros sobre Campinas Horieste Gomes, Campinas renunciou a tudo. Abriu mão de ser uma sede municipal, do potencial que possuía – como toda cidade pequena do interior goiano – dos recursos humanos, da matéria-prima, de sua pequena indústria de base que contava com serralheria, marcenaria, metalúrgica, cerâmica e olarias, dentre outras. “Por tudo isso, mais a doação de terras por parte dos fazendeiros e suporte na construção da capital, Campinas é a mãe de Goiânia”, diz o historiador.
Horieste comenta que não há registro de que tenha havido resistência ao projeto da nova capital. “Havia nesse ato uma força político-administrativa muito grande. A mudança que estava se operando no Estado de Goiás, com essa perspectiva de mudança da capital, tinha uma força política muito grande”, enfatiza o professor.
Shopping horizontal
Com o tempo, Campinas cresceu muito. Deixou de ser bairro e se tornou um setor, perdendo as características bucólicas. Hoje é o setor mais representativo da capital em termos do comércio varejista e atacadista. “Na minha opinião é o maior shopping horizontalizado que existe em Goiás. Praticamente todo o comércio atacadista de Goiânia está em Campinas”, destaca.
Para o historiador e geógrafo, o desenvolvimento fez com que Campinas ganhasse por um lado e perdesse por outro. “O povo fala em progresso. Só que é um progresso que praticamente eliminou uma vida mais tranquila e mais rica em valores humanos”, acredita. “As crianças não têm mais espaço para brincar e não interagem com a comunidade. O trânsito ficou uma calamidade e as pessoas foram se mudando, pois o local perdeu as condições de ser habitado”, afirma.
“Apesar disso, ainda há campineiros residindo no local”, diz o professor. A campineira Maria Bárbara Duarte, a dona Bita, de 85 anos, é uma das remanescentes. Ela conta que na rua onde mora há 57 anos, só tem duas residências. A dela e mais uma. Todo o resto é comércio. “Às vezes até penso em vender e me mudar”, desabafa dona Bita.
Na análise de Horieste Gomes, entre 1930 e 1950, a Campininha era tranquila e acolhedora e estava dentro dos padrões de sustentabilidade. As décadas seguintes, entre 1950 a 1970, marcaram o início acelerado do processo especulativo de loteamento e do rompimento com o projeto arquitetônico de Goiânia. A partir dos anos de 1970 há o início da expansão verticalizada e continua a expansão horizontal.
Na década de 1970, Goiânia e outras capitais brasileiras sofreram com o inchaço provocado pelo êxodo rural, que se expandiu para a periferia do centro, como é o caso de Campinas, Leopoldo Bulhões, Aparecida de Goiânia, Hidrolândia, dentre outras. O historiador observa que a transição de Campinas de bairro residencial para bairro comercial vinha ocorrendo desde a década de 1970. “No entanto, o processo acelerou a partir dos anos 1980”
*Fonte: G1 Goiás